domingo, 21 de julho de 2013

Semiótica - Nível Discursivo

''É no nível discursivo que o sentido alcança seu patamar mais superficial e, ao mesmo tempo, mais específico e complexo.'' (''A semiótica no espelho'', Lúcia Teixeira)

Proposta de análise:

1. Explique o nível discursivo do percurso gerativo de sentido, como proposto pela semiótica francesa. Considerando o fragmento da música Hoje a noite não tem luar, transcrito a seguir, faça uma análise das projeções de pessoa (operações de debreagem e embreagem) de 1º e 2º graus que ocorrem no texto. Quais os efeitos obtidos por essas projeções na música?

Ela passou do meu lado
"Oi, amor." - eu lhe falei
"Você está tão sozinha."
Ela então sorriu pra mim
Foi assim que a conheci
Naquele dia junto ao mar
As ondas vinham beijar a praia
O sol brilhava de tanta emoção
Um rosto lindo como o verão
E um beijo aconteceu [...]
(Hoje a noite não tem luar, Legião Urbana)

Você pode ouvir a música Hoje a noite não tem luar no link:


2. Com base na proposta da semiótica discursiva,de classificação dos textos em temáticos e figurativos, como pode ser classificado o fragmento texto a seguir, quanto à semântica discursiva? Justifique a sua resposta.

  “Novas e más surpresas marcaram a divulgação do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) na semana passada. Pelos dados, o ensino médio brasileiro ficou estagnado. Pior: no universo das escolas particulares os números estão abaixo do estabelecido como meta pelo governo. Diante do quadro desanimador, o MEC planeja lançar uma operação de emergência mudando o currículo exigido. A ideia é reduzir a quantidade de disciplinas para reforçar a qualidade do aprendizado. [...]”

[Educação em marcha lenta, Carlos José Marques, diretor editorial, Isto é]

P.s.: As questões deverão ser respondidas nos comentários desse post!!

Semiótica - Nível Narrativo

''No nível narrativo, entram em cena sujeitos em busca de valores investidos em objetos, traçando percursos que se relacionam às oposições do nível fundamental.'' (''A semiótica no espelho'', Lúcia Teixeira).

Proposta de análise:

1. Considere o fragmento da música A história de Lily Braun, transcrita a seguir. Faça uma análise desse fragmento textual, considerando a relação entre sujeito e objeto, e suas transformações. Utilize as suas considerações sobre a música para explicar sucintamente em que consistem as operações do nível narrativo do percurso gerativo de sentido, em seus componentes sintático e semântico.

2. Considerando os quatro modos de manipulação que estudamos na semiótica discursiva, analise a estratégia mobilizada no fragmento da letra da música A história de Lily Braun. Defina em que consiste essa estratégia e justifique a sua resposta com base em trechos extraídos do texto.


Como num romance
O homem dos meus sonhos
Me apareceu no dancing
Era mais um
Só que num relance
Os seus olhos me chuparam
Feito um zoom [...]
E voltou
Me ofereceu um drinque
Me chamou de anjo azul
Minha visão
Foi desde então ficando flou
Como no cinema
Me mandava às vezes
Uma rosa e um poema
Foco de luz
Eu, feito uma gema
Me desmilingüindo toda
Ao som do blues


(A história de Lily Braun, Maria Gadú)

Você pode ouvir a música A história de Lily Braun no link:

http://www.youtube.com/watch?v=rabzeHnZrUU

P.s.: As questões deverão ser respondidas nos comentários desse post!!

Semiótica - Nível Fundamental

''No exame do nível fundamental, considera-se que o que determina as condições de existência dos objetos semióticos  é uma estrutura elementar de significação que, partindo da oposição entre dois temas contrários, possa oferecer um conjunto mínimo de termos e relações operacionalizáveis no quadrado semiótico.'' (''A semiótica no espelho'', Lúcia Teixeira)

Proposta de análise:

Em que consiste a análise do nível fundamental do percurso gerativo de sentido de um texto? Após a leitura da primeira estrofe da música Sobradinho, composta por Sá & Guarabyra, exposta a seguir, faça uma análise das relações de sentido do nível fundamental em seus componentes sintático e semântico.


O homem chega e já desfaz a natureza
Tira a gente põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá prá cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão [...]
(Sobradinho, Sá & Guarabyra)

Você pode ouvir a música Sobradinho no link:

http://www.youtube.com/watch?v=8ERBwtuaYmY

P.s.: As questões deverão ser respondidas nos comentários desse post!! 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Seminário do LAS: Sujeito, Discurso e Imprensa



Na próxima quinta, dia 18às 18hna sala 218C, será o Seminários Do LAS: Sujeito, Discurso e Imprensa.

Para o evento, virão os seguintes palestrantes:
 
Aloysio Castelo de Carvalho (UFF)
Fernando Fagundes Ribeiro (UFF)
Telma Domingues da Silva (UNIVAS)


terça-feira, 2 de julho de 2013

Entrevista com Eni Orlandi

Encontrei uma entrevista muito interessante com a Professora Eni Orlandi, pioneira nos estudos de Análise do Discurso no Brasil, no site do Globo.


Globo Universidade – A senhora diz que a linguagem tem sua materialidade. Como lembrar que a linguagem não é um mero instrumento de comunicação?
Eni Orlandi – Comecei a questionar os linguistas que trabalham a linguística do significante, pensando a língua fechada nela mesma. Para mim, a língua tem certa autonomia, não é fechada, há uma abertura do simbólico. Não é em si que me interessa a língua, mas a forma como é praticada, produzindo sentidos, dentro da sociedade e da história. Nas Ciências Sociais e Humanas tem-se uma visão da língua como algo transparente, que você atravessa para procurar o sentido lá atrás. Com a linguística, aprendi que a língua tem uma ordem nela mesma, que você não a atravessa assim. Não se pode considerar que o sentido é um conteúdo depositado em algum lugar e que você vai procurar. O sentido está na materialidade discursiva, no fato de que a língua para significar tem que se inscrever na história.

GU – Como a historicidade influencia o discurso?
EO – Enquanto seres humanos somos seres históricos, simbólicos e sociais. Ao considerar o sujeito, o sentido, comecei a me interessar, criticamente, pelo processo dessa identidade, assim como pelo modo como os sentidos eram constituídos. E, naquele momento de minhas reflexões, me dediquei a pensar o discurso sobre o brasileiro e do brasileiro sobre si mesmo. Para isto tinha de mostrar que a gente precisa atravessar a interpretação para chegar à compreensão do discurso. Na interpretação, somos pegos pelas evidências já construídas, ao sabor das quais nos relacionamos com nossa realidade, imaginária. Com a compreensão, não ficamos nos produtos, mas conhecemos os processos de produção, a historicidade em sua materialidade contraditória, concreta, que atingimos analisando a materialidade discursiva.

GU – Pêcheux falava da relação do simbólico com o político. Qual a influência do discurso na ideologia e vice-versa?
EO – O objetivo de Pêcheux era ver como é que esse político, que não é o partidário, está simbolizado e como o homem está nessa simbolização do político. O político está no fato de que, como nossa sociedade é dividida, há uma divisão nos sentidos, eles não significam a mesma coisa para todos, mas, sim, na diferença. Por seu lado, consideramos que a materialidade da ideologia é o discurso e a materialidade do discurso é a língua. Assim, articulam-se língua e ideologia com o discurso. Comecei a desenvolver no meu trabalho discursivo algo que, na linguística formal, está excluído: a relação do sujeito e da situação. Quando assumi meu posto na USP, dava aulas de linguística geral e também de sociolinguística – porque não havia análise do discurso no currículo. Dei aulas que me eram destinadas dar e, dentro delas, introduzia essas outras ideias, da análise de discurso.

GU – E por que a escolha pela análise do discurso em vez da sociologia?
EO – Porque eu era e sou linguista e queria trabalhar a linguagem, por meio da qual você pode atingir essas questões que estão postas e te permitem pensar no sujeito e no sentido conjuntamente, pensando a ideologia e a política. O meu trabalho, embora suscitasse reações bastante adversas – inclusive na Unicamp, onde foi possível institucionalizar a disciplina Análise de Discurso (anos 1980) – era no intuito de mostrar que não é o que você diz, é como você diz que implica num sentido. As palavras escolhidas para uma mesma coisa, por sujeitos ou em situações diferentes, significam diferentemente umas das outras. Estabeleci essa outra forma de pensar a linguagem, enquanto linguista, porque, pelo menos no Brasil, e certamente nas Ciências Humanas, havia essa necessidade de falar da linguagem dessa forma.

GU – Porque o discurso inteligível não é necessariamente um discurso compreensível...
EO – Basta você falar português e eu também e o que eu estou dizendo fica absolutamente inteligível. Já compreender um discurso é conseguir explicitar a maneira como ele está produzindo sentido. E para chegar à compreensão, o analista não pode ficar só no que é inteligível, e nem mesmo no interpretável. Ele precisa entender como a interpretação está funcionando em você, em mim, pois, de uma certa maneira, eu posso, inclusive, estar produzindo sentidos que vão em uma outra direção, que você nem percebeu, não conseguiu interpretar, dadas as condições em que estão sendo produzidos.

GU – A senhora afirma que o silêncio também é uma forma de discurso, e que ele não está somente entre as palavras, mas as atravessa. Como o silêncio se expressa?
EO – O silêncio não fala, ele significa. Se você fizer o silêncio falar, ele vai significar diferente. Ele significa por ele mesmo, ele faz sentido, e isto é muito importante. Às vezes mais importante que as palavras. Significar com palavras é diferente de significar com silêncio. Há o silêncio que é a própria respiração do sentido. A gente pode estar em silêncio e estar significando. E também, muitas vezes, você fala certas coisas para que outros sentidos não apareçam. Isso é o silenciamento. Mas o sentido silenciado não desaparece. Porque o homem tem necessidade vital de significação. Onde ele não pode significar, migra para outros objetos simbólicos.

GU – Seu trabalho, atualmente, objetiva o estudo do sujeito no espaço urbano. Quais são as especificidades desse sujeito, dos meios eletrônicos e desses novos símbolos?
EO – Com a criação, nos anos 1990, do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb), na Unicamp, passei a me interessar pela questão da cidade como um espaço de significação. Para compreender, na chamada mundialização, o modo como os sujeitos se significam, se dizem, se individualizam e como suas práticas são significadas, geridas ou não pela articulação simbólica e política do Estado, que tem funcionado pela falta. Os sujeitos não são inertes. E um menino que faz uma pichação está lá para dizer que ele existe, que ele está ali, que este seu gesto é um gesto simbólico que o liga de algum modo à sociedade. Pela análise de discurso eu compreendo isto e, com meu trabalho, posso conversar com a sociedade, com os administradores, com urbanistas, e intervir no modo como sujeito, sociedade, Estado estão sendo articulados e significando. Assim, rompo com o círculo da repetição e é este meu grande momento: o da compreensão e da formulação, no meu corpo a corpo com a linguagem.

Link da matéria:
http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2012/11/eni-orlandi-fala-sobre-analise-do-discurso-e-linguagem-em-entrevista.html